tandem
Há muitos anos que queria fazê-lo, que pensava nisso, que ansiava e sonhava com o momento... Há alguns meses comecei a antever a hora... Há algumas semanas comecei a planeá-lo e no sábado, 06/06/2009 finalmente aconteceu...
Muita gente tem dito que é uma loucura e recorrentemente ouça a pergunta "para quê?!", mas não há como senti-lo para entender a resposta.
Estava um sol radiante há uma semana, mas dois dias antes o céu começou a ficar negro e a chuva a precipitar-se sobre os meus planos. Telefonei na véspera, como por eles sugerido, para saber se as condições climáticas permitiriam a realização, mas não me souberam responder. Ficou a resposta adiada para a manhã seguinte. Então no sábado, logo pela manhã liguei para saber e do outro lado o Eddy diz-me "estamos agora mesmo a prepararmo-nos!!!" e eis que me passa o sono e exclamo: "está confirmado!!!", mal eu sabia da angustia que ainda ia passar...
Fiz-me então ao caminho já que Évora fica longe. Foram 300km calmos e pacientes, mas que nunca mais acabavam até porque a manhã já ia bem dentro e ainda parecia de noite tal estavam as nuvens carregadas... choveu o caminho todo e eu só pensava "isto não é nada... do Tejo para baixo é que se vê..." e viu-se... continuava a chover torrencialmente e eu já desesperava... Chegamos a Évora com a intenção de passear, mas para fugir à molha refugiámo-nos num restaurante bem castiço junto às muralhas e do qual não me lembro o nome. Comemos e bebemos à moda do Alentejo acompanhados de excelente simpatia, mas a chuva não passava...
Eram quase 15h e estava a chegar ao aeródromo. Agora vinha em aguaceiros. Ora chuva, ora sol, mas sempre com vento...
Inscrevi-me e fiquei à espera... eternamente... a informação era quase nula... Vi chegarem algumas caras eufóricas e uns vídeos a passar que ilustravam bem aquilo a que vinha, mas a minha esperança já havia sido maior...
Ouvi alguém dizer que o mais experiente do país, com mais de 5 mil saltos, se recusou a subir. Preocupei-me. Eram 600km e um dia que era entregue ao lixo!!! Mas aguardei.
A certa altura, um indivíduo, que mais tarde vim a saber se chamar Jorge Grade, veio meter conversa comigo. Tipo simpático, afável, parecia que me conhecia há anos e no entanto falava em tom paternalista, mas não condescendente. Falou das experiências, do que tem visto ao longo dos anos, dos medos e das coragens, das diferenças dos homens e das mulheres e antes de virar as costas e ir embora pôs-me a mão no ombro e, talvez vendo em mim descrença, disse "não te preocupes que ainda saltas hoje..." e eu sorri.
Entre uma hora sem ver actividade e outra em que vinha uma pequena aberta com chuviscos em que lá ia um grupo, chegou a hora do meu briefing. Foi rápido, conciso, meio na brincadeira, que neste momento devem começar a apertar os nervos, mas pouco esclarecedor, mas também por muito detalhado que fosse, a absorção de informação seria igual.
Já ao fim da tarde, antes de começar o lusco-fusco, sem que nada o fizesse prever e contra as previsões meteorológicas fez-se um lindo dia de verão com céu limpo e sem vento e tivemos luz verde para avançar! Era agora!!!
Vesti o fato de macaco e o resto da parafernália de segurança e fiquei à espera do meu piloto (é assim que se chama) cujo nome figurava num papelinho amarelo que trazia ao peito. Fui encaminhado ao avião, um Cesna de carga onde cabem 18 pessoas sentadas no chão todo colado por dentro com fita adesiva, mas que para mim tinha um aspecto fantástico e aguardei sentado. Eis que chegam os últimos 2 pilotos à pressa pois vinham de fazer um outro salto e um pergunta "quem é o meu passageiro? quem tem o Jorge Grade?" e eu respondi "Eu!". E quem era ele? O mesmo individuo que meteu conversa comigo no hangar enquanto fazia mau tempo! Coincidências... bem ele disse que eu ainda ia saltar e mal ele sabia que seria com ele!
O avião arranca e treme todo com um barulho doce e ensurdecedor. Estamos todos sentados no chão encaixados uns nos outros e prontos para saltar. Uns passageiros falam de mais para esconder os nervos. Outros não falam e não escondem. Eu sorrio. Os pilotos fazem os possíveis para desanuviar o pessoal. O meu faz-me novo briefing; pergunta se está tudo bem. Eu pergunto-lhe se no salto vamos atravessar nuvens e ele diz-me que está limpo, mas se assim fosse também não haveria problema e eu respondo-lhe "Eu é que queria experimentar..." e desta vez quem sorri é ele. Depois disse-me "quando saltarmos vamos virar ao contrário para veres o avião e depois fazemos alguns 360º tudo em queda livre" e eu disse inocentemente "Fixe!".
Chegou a hora! 3500 pés de altitude! A porta abre-se. É um barulhão, mas nem se ouve e vem frio. Arrastamo-nos para a porta e como havia sido instruído, sento-me na beira do avião com os pés para fora como se estivesse na beira da piscina. A partir daqui é difícil descrever sensações, mas vou tentar... Olho cá para baixo e sorrio... esta sensação já ninguém me tira! e é lindo!
E enfim saltamos!!! E viramos para cima, vejo o avião, e voltamo-nos para baixo e andamos às voltas e continuamos em queda livre durante o que eu estimo terem sido 40 segundos! Talvez os 40 segundos mais intensos da minha vida! Não há palavras que expliquem sensação, sentimento ou rush de adrenalina como este! Acreditem que só dá vontade de gritar sílabas sem sentido e berrar "LINDO!!!"
É absolutamente indescritível!!! Ouço-o dizer “Ganda salto!”, não sei porquê, mas para mim foi certamente especial…
Manda-me fechar os braços e abre-se o pára-quedas. Agora conseguimos conversar e ele pergunta-me se gostei. Se gostei?! Impressionante! Andámos às voltas no ar de um lado para o outro a ver a vista. Treinámos a aterragem por 2 vezes. Pus-me mais confortável no arnês e desfrutei, curti mesmo à brava todos os segundos daquela descida que deve ter durado cerca de 10 minutos. Fui o primeiro a saltar e o último a aterrar e fiquei arrebatado…
Pousamos e, ao contrário do que se possa imaginar, não ficamos a pensar igual a uma criança “quero mais!”, não porque não o queiramos, mas porque a sensação de voar ainda não passou! Nem vai passar tão depressa!
Tomo uns segundos para me pôr em pé depois de soltar o arnês. Ele pergunta-me “curtiste?” e eu nem sei o que respondi, mas acho que ele percebeu na minha cara o que eu queria dizer. Ajudo o meu piloto com o pára-quedas e vamos em direcção ao hangar onde ele vai em segundos trocar de equipamento para voltar a subir para treinar para o campeonato da Europa. À saída ele diz-me “aguenta aí que quando voltar vês o vídeo do treino aí connosco, vai ser muito fixe!”, mas com muita pena minha não fiquei que a viagem para Coimbra ainda era longa.
E é isso: para quem ainda não percebeu, é verdade, concretizei um sonho de saltar de pára-quedas e hei-de voltar a fazê-lo. Recomendo vivamente porque até agora ainda não vivi nada igual.
Um especial agradecimento ao Jorge Grade que tornou esta experiência ainda mais viva e relembro algo que ouvi durante o voo: “os pilotos de avião acham que voam porque pilotam aviões, mas na verdade quem voa somos nós!!!”
09 de Junho de 2009
Nelson Monteiro Santos
Muita gente tem dito que é uma loucura e recorrentemente ouça a pergunta "para quê?!", mas não há como senti-lo para entender a resposta.
Estava um sol radiante há uma semana, mas dois dias antes o céu começou a ficar negro e a chuva a precipitar-se sobre os meus planos. Telefonei na véspera, como por eles sugerido, para saber se as condições climáticas permitiriam a realização, mas não me souberam responder. Ficou a resposta adiada para a manhã seguinte. Então no sábado, logo pela manhã liguei para saber e do outro lado o Eddy diz-me "estamos agora mesmo a prepararmo-nos!!!" e eis que me passa o sono e exclamo: "está confirmado!!!", mal eu sabia da angustia que ainda ia passar...
Fiz-me então ao caminho já que Évora fica longe. Foram 300km calmos e pacientes, mas que nunca mais acabavam até porque a manhã já ia bem dentro e ainda parecia de noite tal estavam as nuvens carregadas... choveu o caminho todo e eu só pensava "isto não é nada... do Tejo para baixo é que se vê..." e viu-se... continuava a chover torrencialmente e eu já desesperava... Chegamos a Évora com a intenção de passear, mas para fugir à molha refugiámo-nos num restaurante bem castiço junto às muralhas e do qual não me lembro o nome. Comemos e bebemos à moda do Alentejo acompanhados de excelente simpatia, mas a chuva não passava...
Eram quase 15h e estava a chegar ao aeródromo. Agora vinha em aguaceiros. Ora chuva, ora sol, mas sempre com vento...
Inscrevi-me e fiquei à espera... eternamente... a informação era quase nula... Vi chegarem algumas caras eufóricas e uns vídeos a passar que ilustravam bem aquilo a que vinha, mas a minha esperança já havia sido maior...
Ouvi alguém dizer que o mais experiente do país, com mais de 5 mil saltos, se recusou a subir. Preocupei-me. Eram 600km e um dia que era entregue ao lixo!!! Mas aguardei.
A certa altura, um indivíduo, que mais tarde vim a saber se chamar Jorge Grade, veio meter conversa comigo. Tipo simpático, afável, parecia que me conhecia há anos e no entanto falava em tom paternalista, mas não condescendente. Falou das experiências, do que tem visto ao longo dos anos, dos medos e das coragens, das diferenças dos homens e das mulheres e antes de virar as costas e ir embora pôs-me a mão no ombro e, talvez vendo em mim descrença, disse "não te preocupes que ainda saltas hoje..." e eu sorri.
Entre uma hora sem ver actividade e outra em que vinha uma pequena aberta com chuviscos em que lá ia um grupo, chegou a hora do meu briefing. Foi rápido, conciso, meio na brincadeira, que neste momento devem começar a apertar os nervos, mas pouco esclarecedor, mas também por muito detalhado que fosse, a absorção de informação seria igual.
Já ao fim da tarde, antes de começar o lusco-fusco, sem que nada o fizesse prever e contra as previsões meteorológicas fez-se um lindo dia de verão com céu limpo e sem vento e tivemos luz verde para avançar! Era agora!!!
Vesti o fato de macaco e o resto da parafernália de segurança e fiquei à espera do meu piloto (é assim que se chama) cujo nome figurava num papelinho amarelo que trazia ao peito. Fui encaminhado ao avião, um Cesna de carga onde cabem 18 pessoas sentadas no chão todo colado por dentro com fita adesiva, mas que para mim tinha um aspecto fantástico e aguardei sentado. Eis que chegam os últimos 2 pilotos à pressa pois vinham de fazer um outro salto e um pergunta "quem é o meu passageiro? quem tem o Jorge Grade?" e eu respondi "Eu!". E quem era ele? O mesmo individuo que meteu conversa comigo no hangar enquanto fazia mau tempo! Coincidências... bem ele disse que eu ainda ia saltar e mal ele sabia que seria com ele!
O avião arranca e treme todo com um barulho doce e ensurdecedor. Estamos todos sentados no chão encaixados uns nos outros e prontos para saltar. Uns passageiros falam de mais para esconder os nervos. Outros não falam e não escondem. Eu sorrio. Os pilotos fazem os possíveis para desanuviar o pessoal. O meu faz-me novo briefing; pergunta se está tudo bem. Eu pergunto-lhe se no salto vamos atravessar nuvens e ele diz-me que está limpo, mas se assim fosse também não haveria problema e eu respondo-lhe "Eu é que queria experimentar..." e desta vez quem sorri é ele. Depois disse-me "quando saltarmos vamos virar ao contrário para veres o avião e depois fazemos alguns 360º tudo em queda livre" e eu disse inocentemente "Fixe!".
Chegou a hora! 3500 pés de altitude! A porta abre-se. É um barulhão, mas nem se ouve e vem frio. Arrastamo-nos para a porta e como havia sido instruído, sento-me na beira do avião com os pés para fora como se estivesse na beira da piscina. A partir daqui é difícil descrever sensações, mas vou tentar... Olho cá para baixo e sorrio... esta sensação já ninguém me tira! e é lindo!
E enfim saltamos!!! E viramos para cima, vejo o avião, e voltamo-nos para baixo e andamos às voltas e continuamos em queda livre durante o que eu estimo terem sido 40 segundos! Talvez os 40 segundos mais intensos da minha vida! Não há palavras que expliquem sensação, sentimento ou rush de adrenalina como este! Acreditem que só dá vontade de gritar sílabas sem sentido e berrar "LINDO!!!"
É absolutamente indescritível!!! Ouço-o dizer “Ganda salto!”, não sei porquê, mas para mim foi certamente especial…
Manda-me fechar os braços e abre-se o pára-quedas. Agora conseguimos conversar e ele pergunta-me se gostei. Se gostei?! Impressionante! Andámos às voltas no ar de um lado para o outro a ver a vista. Treinámos a aterragem por 2 vezes. Pus-me mais confortável no arnês e desfrutei, curti mesmo à brava todos os segundos daquela descida que deve ter durado cerca de 10 minutos. Fui o primeiro a saltar e o último a aterrar e fiquei arrebatado…
Pousamos e, ao contrário do que se possa imaginar, não ficamos a pensar igual a uma criança “quero mais!”, não porque não o queiramos, mas porque a sensação de voar ainda não passou! Nem vai passar tão depressa!
Tomo uns segundos para me pôr em pé depois de soltar o arnês. Ele pergunta-me “curtiste?” e eu nem sei o que respondi, mas acho que ele percebeu na minha cara o que eu queria dizer. Ajudo o meu piloto com o pára-quedas e vamos em direcção ao hangar onde ele vai em segundos trocar de equipamento para voltar a subir para treinar para o campeonato da Europa. À saída ele diz-me “aguenta aí que quando voltar vês o vídeo do treino aí connosco, vai ser muito fixe!”, mas com muita pena minha não fiquei que a viagem para Coimbra ainda era longa.
E é isso: para quem ainda não percebeu, é verdade, concretizei um sonho de saltar de pára-quedas e hei-de voltar a fazê-lo. Recomendo vivamente porque até agora ainda não vivi nada igual.
Um especial agradecimento ao Jorge Grade que tornou esta experiência ainda mais viva e relembro algo que ouvi durante o voo: “os pilotos de avião acham que voam porque pilotam aviões, mas na verdade quem voa somos nós!!!”
09 de Junho de 2009
Nelson Monteiro Santos
